[CRÍTICA] Watchmen: O retrato neo-noir da imperfeição


Diário de Rorschach, 12 de outubro de 1985...” – a iniciar pelo detetive Rorschach, como seu diário e suas investidas questionáveis, passando pela estética composta na Nova York de Snyder e culminando em um desfecho um tanto acalentador: Watchmen é um filme noir. Ou neo-noir, como queiram. Ademais é também uma obra de super-heróis cuja história é uma desconstrução de suas figuras místicas de auras intocadas, onde todos eles são imperfeitos de alguma maneira. E lembrem-se de que é um filme noir – a repetição aqui foi proposital e instigante.

Os Watchmen

Neste longa-metragem a narrativa constrói um cenário da desilusão de uma sociedade decadente, e como reflexo disso temos um grupo de degenerados que faz justiça com as próprias mãos. Onde até mesmo o sistema fez parte da coisa alguns anos anteriores, ao permitir que policiais utilizassem máscaras para alcançar aonde a justiça não alcançaria – pelo menos não por meios legais. Várias ligações com a realidade são feitas de maneira que os Watchmen – e também os Minutemen – tenham uma ligação com alguns dos principais acontecimentos históricos recentes como a ida do homem à Lua e o assassinato de JFK.

Os 3 atos reverberam um sonoro desfoque do convencional, e ganham auxílio nos entre atos que contribuem para o desfecho grandioso e implacável. Os arcos de cada herói têm começo, meio e fim catatônicos. São super-heróis e são imperfeitos, isto os torna interessantes dada a imprevisibilidade presente. Ao passo que uma simples morte ecoa de forma sombria nos ouvidos do antigo grupo, muito é colocado em jogo nos permitindo divagar ‘o que diabos está acontecendo?’.

The Minutemen - O grupo que veio antes e inspirou os Watchmen

O que há para ser criticado no filme?


  • Zack Snyder simplesmente ignorou alguns elementos da história em quadrinhos. A ideia de que não teria tempo suficiente para concretizá-las é uma convenção de pura falácia, pois ele teve a pachorra de inserir na versão definitiva uma adaptação do ‘Contos do Cargueiro Negro’ em forma de animação, tornando a obra cansativa por causa do ritmo completamente quebrado.

  • As convenções de gênero são glamourosas e tornam a película ainda mais especial, pois estamos vendo os super-heróis em uma abordagem completamente inusitada. Porém o excesso de slow motion cria momentos de puro tédio, deixando as 3 horas de filme muito maçantes de serem assistidas.

  • A mudança do personagem Ozymandias, que nos quadrinhos é uma figura carismática caracterizando um homem dito perfeito, vegetariano, que pratica meditação e exercícios físicos diários – e que podem lhe render uma expectativa de vida de até 150 anos – para ser um personagem chato, com cara de riquinho mimado que causa repulsa.



Veredito

Watchmen está no hall seleto de melhores adaptações de quadrinhos, fidelizando de uma maneira até excessiva – segundo críticas, acreditem – o trabalho definitivo de Alan Moore. Alguns aspectos incomodam o desenvolver do filme, mas nada que o torne intragável, muito pelo contrário, é um filme com história intrigante e nunca vista antes. Nota 7 de 10.

Abraços,

Kike