[CRÍTICA] Coringa: O reflexo de uma cidade suja e corrupta (Sem spoilers)


O tão aguardado filme chegou. E não são poucos os elementos que corroboram com esta afirmativa, afinal é de um icônico vilão que estamos falando e que alimenta a nossa curiosidade há muitos anos. Os motivos? Não sabemos sua identidade e sequer entendemos sua mentalidade imprevisível, mas eis o que podemos afirmar: partindo dele, tudo pode acontecer. Imagina alguém que "gosta de ver o circo pegar fogo"... É ele.

Joaquin Phoenix dando vida ao Coringa em 2019

A obra nos apresenta uma narrativa pouco cautelosa no que se refere a origem do personagem em questão. E como se trata de um filme solo do Coringa, ou seja, nada de outros personagens conhecidos, temos então uma lacuna a ser preenchida com nuances do protagonista e de seus companheiros de tela. Acredito que este era o principal super-trunfo que Todd Phillips possuía na manga e ele acertou precisamente. O diretor, aliás, ainda contou com produção de Bradley Cooper e Martin Scorsese - este último que ainda entregou dois filmes que que serviram como fontes de inspiração: O Rei da Comédia e Táxi Driver. E já que o morcegão terá um film noir em 2021, o Coringa também tem e o dele chegou primeiro em uma apresentação de gala, típica de teatro.

Os três atos são um ensaio do que uma cidade suja e corrupta pode refletir na população, e no rufar dos tambores nasce então o caos de Gotham sintetizado em uma pessoa. Ele dança esquisito, é imprevisível e gargalha em momentos inoportunos - mesmo que esteja realizando um ato diabólico. O Coringa aqui mostra o nível de carisma que possui. Em dado momento Arthur afirma para uma psicóloga do serviço social não ter mais nada a perder, àquela altura ele já sabia da existência do Coringa e estava apenas nos contando. Já não gaguejava mais, não se intimidava com os holofotes e nem ria de nervoso. O elo que Arthur mantinha com a sanidade se esvaiu após a morte, e que neste momento [a palavra] tem sentido figurativo. O personagem ainda conta com psiques interessantes na maneira com que se apresentam, e todas elas culminam em um homem insano cansado da sociedade.

Um ponto interessante a se destacar é a construção do vilão neste filme. Ao passo que Arthur é um homem frágil e marginalizado pela sociedade, temos em outros momentos um homem que suporta muita pressão e que sofre as suas injustiças diárias. A Gotham City que estamos familiarizados mostra que ela é uma cidade carente já não é de hoje, pois contextos sociais foram muito bem inseridos na história, permitindo que a narrativa nos entregue um caminho delineado para o 3º ato. Rufam-se os tambores e fecham-se as cortinas após o clímax do filme. Cara, vimos o Coringa nascer!

ORIGEM

Criado em 1940 o Coringa nasceu sendo um assaltante de joalherias, que colocava em suas vítimas um sádico sorriso. Visualmente falando sua inspiração foi o personagem de Corad Veidt em O Homem Que Ri (1928), filme que adapta para as telonas um conto de Victor Hugo. Alguns anos mais tarde todos os personagens de histórias em quadrinhos sofreram drásticas alterações. A CMAA (Comics Magazine Association of America) entrou com o pé na porta das editoras, censurando na sua totalidade o conteúdo que nas HQs era criado. Isso fez com que os personagens se tornassem completamente infantis, o que resultou posteriormente em trabalhos como o Batman de Adam West, que já se comportava daquela maneira nos quadrinhos. Mas Neal Adams refez tudo o que estava despedaçado, mas ainda assim manteve o conceito de não criar uma origem para o Coringa. Nos anos 80 vários heróis foram repaginados como o Batman mesmo em Batman: Ano Um, até que Alan Moore arriscou uma história do homem-morcego onde podemos vislumbrar cenas de flashback mostrando o passado do Coringa. Naquele aspecto ele era um homem de família, mas passava sérias dificuldades financeiras tentando ser comediante. Naquela graphic novel pudemos ver como um pai de família enlouqueceu a ponto de se tornar o psicopata mais perigoso de todos. Ainda assim é uma origem um tanto vaga e que não mostra muitos elementos que façam algum sentido como nome, idade, cidade natal etc. E neste conceito o filme está plenamente estabelecido.

Encerro por aqui, caros amigos.

Abraços,
Kike