"Algum lugar, além do arco-íris..."


Talvez este seja um filme em que há uma harmonia na Estrutura Clássica Aristotélica de tal modo que permite a narrativa nos entregar uma divertida fábula, riquíssima em simbologia. Aliás as cores do 2º ato são um inédito representamen, embelezando o pilar que sustenta a tricotomia objeto-representamen-interpretante. Isto se mostrou uma ótima alternativa para enriquecer a linguagem cinematográfica. O prelúdio nos permite observar claramente a argumentação que o filme propõe, e o faz de maneira audaz e um tanto despretensiosa. Ao final de sua 1 hora e 52 minutos temos a sensação de ter vivenciado uma verdadeira aventura repleta de encantos. Magnífico! Espetacular!


O Mágico de Oz: Um estudo da psique humana?

Sim. Todo filme pode sê-lo, devo dizer. Fato é: quando percebemos as nuances da personagem, tão logo compreendemos a figuração explícita de sua mentalidade. É de uma menina que estamos falando, pois Dorothy é como Alice - mas sem coelho e chapeleiros malucos. A transição entre o 1º e o 2º ato ocorre de uma maneira muito interessante, utilizando uma semiótica apaixonante que corrobora com a personalidade da jovem. O filme se inicia preto e branco, tem o 2º ato colorido e, ao fechar das cortinas, volta a ser preto e branco. Dorothy ainda leva para seu berrante devaneio alguns amigos e traça sua aventura cantarolando de braços dados com todos eles.

É possível perceber os amigos do sonho de Dorothy em um momento antes da viagem para Oz: trata-se dos funcionários da fazenda, que têm amizade com a garota. Hunk é um desmiolado que não presta atenção devidamente ao seu trabalho, e vê seu dedo ser pressionado pela carroça. Desatento! Hickory não liga muito para o que está acontecendo ao redor e sonha em ter uma estátua sua no centro do bairro para que todos o conheçam. Desnaturado! E Zeke salva Dorothy de ser pisoteada pelos porcos, mas ao resgatá-la demonstra estar tão assustado quanto uma garotinha de 16 anos. Medroso!

Por trás da mente de Dorothy

A vida de Dorothy é imersa em um turbilhão de sentimentos, muito se deve pela juventude e energia da garota que acaba exponenciando algumas situações deveras comuns e corriqueiras.  Sua Tia Em lhe dá uma bronca, diz a menina ir a algum lugar onde ela não aborreça os outros. A frase de Dorothy na sequência é peculiar e nos dá pistas sobre o 2º ato, onde diz: "Algum lugar que eu não aborreça ninguém... É possível existir tal lugar, Toto? Deve haver. Não que seja possível chegar lá de barco ou por trem... Pode ser muito, muito distante. Atrás da lua. Além das chuvas. Algum lugar além do arco-íris..." e, então, se inicia o momento eternizado pela canção 'Somewhere Over the Rainbow'.


A garota foge de casa e leva seu melhor amigo junto. Durante a caminhada acaba encontrando um mágico conhecido como Professor Marvel. Ele a convida para uma pausa e conta a menina que possui um poder de adivinhar coisas, então não demora muito para que a ingênua Dorothy se vê retornando para o lar com remorso, pois o adivinho lhe contou que a Tia Em estava a sua procura. Uma tempestade assolou o bairro e todos haviam se escondido em um porão, mas Dorothy chegou tarde demais e se abrigou em casa mesmo. A menina acaba desmaiando após um objeto atingi-la na cabeça. Ao despertar, um evento interessante e nada convencional: a casa foi levada pelo tornado e Dorothy vê sua moradia voar e pousar em um lugar "muito longe do Kansas". A metáfora é verdadeira na frase da jovem, e ela vê então um país mágico e... COLORIDO. A partir daí o filme ganha cores, tecendo a denotativa da psique de uma doce criança. A mentalidade de uma menina é colorida, esdrúxula, repleta de canções e danças. A partir daqui estamos na mente de Dorothy. 
No primeiro encontro, Dorothy se depara com um espantalho que lhe conta o desejo de ter um cérebro. O segundo encontro é com um homem de lata enferrujado, ele diz a Dorothy que gostaria de receber um coração. O último encontro é hilário: é com um leão absolutamente covarde. Eventualmente Dorothy fala para todos no grupo que tem a sensação de que os conhecem, mas não se lembra exatamente de onde. A antagonista de Dorothy, a Bruxa Malvada do Oeste, é a incorporação da senhoria dona das terras onde Tia Em e o Tio Henry zelam. Esta perversa dona das terras chama-se Almira Gulch, e no início do filme ela é atacada por Toto, fazendo com que a garota chegue ofegante e desesperada em sua casa. Dorothy pede socorro, mas a senhorita Gulch leva Toto embora, a mando de um oficial de justiça que ordenou a eutanásia do pobre animal. Por isso Dorothy foge de casa. Pesado, hein?

É isso, caros amigos. Espero que tenham gostado.

Abraços,
Kike