Em algum lugar, um ‘Blade Runner’ caça Replicantes: novembro, 2019


Novembro, 2019. É em algum dia, neste mês e neste ano, em que os eventos de Blade Runner, o Caçador de Androides, ocorrem. 2019 tem sido um ano especial pois a série Dark também comemorou data neste mesmo mês. Aqui abordo o autor, Philip K. Dick, tecendo alguns comentários sobre sua carreira. Abordo também alguns aspectos técnicos que dão ao filme um visual único e muito bonito até os dias atuais. Por fim trago uma sinopse das sequências de Blade Runner – e não é do filme que eu falo, e sim do livro. K. W. Jeter é um escritor norte-americano nascido em março de 1950, ele era amigo de K. Dick e foi autorizado pelo falecido escritor a conceber novas histórias para ‘Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?’, de 1968. Este livro – cujo título é charmoso e bizarro - é base do filme Blade Runner e é leitura obrigatória para todo fã do clássico sci-fi




Philip K. Dick

 O cinema norte-americano tem o costume de adaptar obras literárias, muitas vezes de autores também norte-americanos, o que acaba dando oportunidade de que estes escritores se tornem conhecidos numa proporção que apenas o cinema oferece. É como um assento especial e que somente convidados ilustres podem se sentar como Tolkien, JK Rowling, Tom Clancy e o próprio Philip K. Dick.

O autor ganhou notoriedade póstuma com o lançamento de Blade Runner, o Caçador de Androides (1982), mas esta não foi a única obra literária que ganhou forma nas telonas. Minority Report, com Tom Cruise e Colin Farrell, e O Vingador do Futuro, com Schwarzenegger, são outros dois casos que exemplificam adaptações de K. Dick para as telonas. Mas Blade Runner é o pioneiro. Pena o autor não ter vivido para ver a repercussão e status cult que o filme ganhou. Philip sentiu-se mal em um dia – estava sofrendo um AVC – e acabou não resistindo. Meses depois Blade Runner estreou nos cinemas, mas foi um fracasso comercial e de crítica. Alguns anos mais tarde ganhou um director’s cut em VHS e conquistou os primeiros fãs, que mais tarde espalharam a palavra como um culto, e este gosto por um clássico neo noir acabou ganhando também gerações posteriores.

Estética visual x estética conceitual

Estamos muito habituados a enxergar diferenças entre livro e filme, e em Blade Runner este aspecto não é diferente. Contudo o próprio autor afirma que ambas as obras se complementam, pois ainda que K. Dick não tenha assistido ao filme no lançamento, ele viu um corte mostrado por Ridley Scott e ficou completamente encantado. Esta afirmativa, de que livro e filme se completam, partiu dele mesmo. Tanto é que é comum os fãs conhecerem primeiro Blade Runner, para somente então ir em busca do livro ‘Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas?’ – e que foi o caso deste que vos escreve.
Na estética visual está metade do charme que o filme nos apresenta. Blade Runner é construído em uma dicotomia entre o cyberpunk e o neo noir. O conglomerado de prédios, a chuva torrencial, a sociedade vivendo amontoada são algumas camadas de nuances em que o pano de fundo se desenha, e nele estão imersos os protagonistas. Algumas convenções de gênero foram utilizadas no filme e causaram enorme impacto, já outras foram duramente criticadas - como o voice over de Deckard, posteriormente retirado da versão director’s cut

Deckard e Rachel, 1982

  • Vangelis – o músico, que fez parte do supergrupo The Aphrodite’s Child, foi o responsável pela épica trilha sonora que compõe o filme. Músicas como Love Theme marcaram época. Acredito que o músico foi credenciado a ser o compositor em Blade Runner após seu trabalho em Carruagens de Fogo.
  • Convenções de gênero – o que credencia um filme em um determinado gênero? São suas convenções de gênero, recurso assim chamado para destacar características identificadas na obra audiovisual e que determinarão em qual gênero o filme se enquadra. Previamente o diretor aponta o que deve haver no roteiro para seguir.

Blade Runner mescla conceitos da literatura cyberpunk com convenções de filmes noir


Sequência literária

Mesmo com o falecimento de Philip K. Dick, em março de ’82, ‘Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?’ recebeu sequências, expandindo assim o universo iniciado em 1968.

  • Blade Runner 2: The Edge of Human (Fronteira da Humanidade, em tradução livre, de 1995) – Neste livro o blade runner Deckard recebe contato da sobrinha de Eldon Tyrell. Ela deseja que Deckard aposente um replicante... Ou seria um ser humano?
  • Blade Runner 3: Replicant Night (A Noite dos Replicantes, em tradução livre, de 1996) – Agora morando em uma colônia Off World, Deckard aposentou-se como blade runner e agora ele consulta roteiristas que querem filmar um documentário contando sua história. Não demora muito para que alguns papéis se invertam, e paralelo a isso a Corporação Tyrell vê alguns de seus mais preciosos segredos serem expostos.
  • Blade Runner 4: Eye and Talon (Olho e Garra, em tradução livre, de 2001) – Neste livro temos uma blade runner feminina: Iris. Ela agora vive em um mundo onde a paz perdeu seu rumo, e seu chefe lhe avisa: alguns Replicantes estão voltando para a Terra.

Capa das sequências de 'Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?'

 Enquanto finalizo esta publicação comemorativa, preparo o meu ritual para assistir Blade Runner novamente. Afinal, faz parte do pacote assistir ao meu filme favorito vez ou outra, não é mesmo?

Abraços,
Kike