Fevereiro: mês do imperador dos mortos (George A. Romero)


O que George A. Romero representa para um gênero? Gênero este que é um tanto rejeitado por uns, mas que conta com uma fanbase gigantesca e da disponibilidade de várias mídias que ajudam a espalhar o legado de um homem. Os filmes de terror não possuem assento na Academia de Hollywood, tampouco figuram como filmes de grande orçamento assim como as obras de super-heróis atualmente, porém sua legião de seguidores cresce e cada um espalha a palavra da maneira que pode. O precursor disso? Um homem chamado George Andrew Romero, nascido em fevereiro de 1940, em Nova Iorque. Romero não foi exatamente o primeiro a dirigir um filme retratando mortos-vivos, mas sem dúvida é o mais notório e importante de todos os que arriscaram exibir tripas e sangue na telona.

George é filho de Jorge Romero, um espanhol, com Ann Dvorsky, uma mulher lituana, nascido no dia 4 de fevereiro. Após frequentar a Universidade de Pittsburgh e se formar em artes, George trabalhou realizando curtas e também comerciais até que seu primeiro grande projeto estava para ganhar vida no ano de 1968. No mesmo período o diretor fundou a Image Ten Productions, onde a própria produtora foi responsável por realizar o que veio a ser o pioneiro do horror moderno: A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead). O filme estreou no Byham Theatre, em Pittsburgh - Pensilvânia. Além de tecer a relação entre as personagens confinadas durante um evento apocalíptico, Romero ainda escalava atores negros como protagonistas. Perguntado sobre isso o diretor afirmou que não se tratava da raça em si, mas por que costumava ver personagens negros morrerem cedo nos filmes.

O diretor havia feito uma revolução, principalmente nos efeitos visuais onde pudemos ver criaturas comendo tripas, fígados, rasgando peles e muito sangue rolando. O responsável por isso foi um homem chamado Tom Savini. Mas em um período de 10 anos logo após a estréia de seu primeiro longa-metragem, Romero dirigiu outros títulos de gêneros diversos, até que em 1978 ele embarcou em mais um projeto com mortos-vivos. Dessa vez ele estava expandindo a história iniciada em 1968, que dez anos depois viu o título Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead) ser mais um sucesso. O filme contava a história de 4 sobreviventes do apocalipse zumbi que se refugiam em um shopping center. A obra, além de abordar os monstrengos, ainda trazia uma crítica social muito marcante que se tornou uma grande carta na manga do diretor. Em 1985 o filme Dia dos Mortos (Day of the Dead) marcou o terceiro capítulo deste universo compartilhado do horror, e tanto este quanto seu antecessor receberam mais um ótimo trabalho por parte de Tom Savini. Agora utilizando cores, o mago dos Special Effects pôde ampliar o gore em um nível detalhista que chega a embrulhar o estômago até hoje em dia. Vejam por si mesmos: 

Dia dos Mortos, 1985


RESIDENT EVIL, REMAKES E CRÍTICA ÀS NOVAS FRANQUIAS SOBRE MORTOS-VIVOS


Após o terceiro filme da franquia "Living Dead", a carreira de George Romero entrou em queda. Ainda assim, dirigiu uma adaptação de obra do Stephen King e esteve cotado para dirigir Cemitério Maldito (1989) e adaptar Resident Evil para o cinema - o roteiro pode ser lido na íntegra CLICANDO AQUI. Romero abandonou Cemitério Maldito após atrasos e Resident Evil por conta de diferenças criativas. Certamente quiseram um diretor que abordasse mais a ação do que o horror em si, e Resident Evil ficou com a cara que conhecemos. O 'Resident Evil de George Romero' ia se alinhar muito mais com o jogo, ambientado nos arredores da montanha Arklay e também dentro da mansão, mostrando os cães, os famosos zumbis e alguma criatura sem descrição detalhada - podendo ser um Hunter, talvez. O máximo que veremos é o comercial do jogo Resident Evil 2:
Logo após a debandada do projeto Cemitério Maldito, em 1990 Tom Savini dirigiu o remake de A Noite dos Mortos-Vivos. Mesmo com o comando do pupilo de Romero o filme foi muito mal de bilheteria e também de crítica. Em 2004 foi a vez do iniciante Zack Snyder dirigir uma releitura do filme clássico de 1978, que desta vez teve o título traduzido de outra maneira - como Madrugada dos Mortos, ao invés de Despertar dos Mortos. As críticas foram mistas mas o filme teve bons números na bilheteria, tendo sido planejada uma sequência que ficou em stand-by até o ano passado, quando a Netflix forneceu um orçamento de quase $100 milhões para Zack Snyder finalmente tocar o projeto para frente. O último remake foi do filme Dia dos Mortos, lançado em 2008, e que foi muito mal nas críticas.

Ving Rhames (à esq.) e Sarah Polley são as estrelas de Madrugada dos Mortos

George Romero dirigiu seu último filme em 2009, o sexto da franquia "Living Dead" intitulado Ilha dos Mortos (Survival of the Dead). Na década de 2010 estrearam duas super produções com mortos-vivos: The Walking Dead e Guerra Mundial Z, e isso fez com que Romero enxergasse que não teria mais espaço com seus filmes. Em entrevista ao IndieWire ele diz "Agora por conta de Guerra Mundial Z e The Walking Dead não consigo lançar um filme mais modesto com intenções sociopolíticas. Costumava desenvolver algo com base na ação dos zumbis, mas escondia uma mensagem dentro disso. Agora, não tem mais como [...] De repente veio The Walking Dead, e não dava mais pra fazer filmes com zumbis que tivesse qualquer substância. Tinha que ser um filme apenas com zumbis fazendo estrago, e não é disso que estou falando (em meus filmes)".
Cena icônica de Guerra Mundial Z, 2012

Todo fã de cinema deve dar chance à filmografia de George A. Romero, pois foi um diretor que fez seus trabalhos de maneira autoral, indo na contramão de grandes produções. Os blockbusters nunca fizeram o estilo de Romero, e ele construiu um legado que foi abraçado por uma crescente fanbase. A Noite dos Mortos-Vivos é um dos maiores filmes de horror de todos os tempos, lançado em uma época onde não se esperava ver zumbis comendo tripas e rasgando pessoas em duas partes. Talvez sua ousadia chame a atenção para um aspecto visual escabroso até hoje em dia. Sem dúvidas seu legado é a maior referência que temos.

Eu encerro esta matéria por aqui, espero que tenham gostado. Espalhem a palavra, George Romero vive!
Abraços,

Kike

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