Sobre os ingressos meia-entrada

Olá, amigos do Estante! Venho aqui tirar poeira deste espaço virtual, que já tem aí seu primeiro ano de funcionamento, para poder falar sobre o assunto do momento: o ingresso meia-entrada pode deixar de ser obrigatório para os estabelecimentos do setor exibidor - coloque o cinema nesse pacote também. Sem mais enrolações, vamos ao que interessa.

Antes de tudo vamos fazer a leitura do trecho que destaquei da publicação oficial da ANCINE, confira abaixo ou CLIQUE AQUI para ler a matéria na íntegra:

"A ANCINE aprovou nesta terça-feira, 26 de maio, a colocação em consulta pública, por 45 dias, da Análise de Impacto Regulatório – AIR sobre a influência da obrigatoriedade legal de meia-entrada sobre o mercado exibidor brasileiro. As contribuições poderão ser enviadas até 13 de julho de 2020.

A AIR, sob a coordenação e relatoria da Diretora Luana Rufino, foi realizada pela Superintendência de Análise de Mercado (SAM) e Secretaria Executiva (SEC), a partir de dados do Sistema de Controle de Bilheteria (SCB). O documento faz uma análise, até então inédita, com o número de ingressos vendidos de meia-entrada entre o início do ano de 2017 e o término de 2019. São apresentados dados relativos à proporção de ingressos vendidos em salas de cinema entre meias entradas e ingressos inteiros. Também constam esses dados por unidade da federação e uma análise mais detalhada das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, traçando uma relação entre esses números e indicadores sociais.

As informações presentes no estudo demonstram que a ampla maioria dos ingressos vendidos são de meia entrada. Segundo os dados inéditos do SCB, ao término do ano de 2019, aproximadamente, 80% dos ingressos foram de meia entrada (59,75% legal, 17,27%  promocionais e 2,34% cortesias). Assim, como resultado, para compensar esse grande acesso à meia-entrada, o valor do ingresso praticado é alto, em comparação com outros países.

Além disso, apesar da ampla abrangência, essa política não atende a parcela da população que não se enquadra nas hipóteses de direito a meia-entrada e que não possui condições econômicas de frequentar salas de cinema, visto que os critérios de acesso à meia-entrada não são majoritariamente baseados na renda."

Feito isso, assim como no podcast, agora trago um exemplo de como isso funciona. Vale ressaltar que ignorei vários detalhes e pormenores, sem perder a essência do exemplo - tudo para que seja o mais didático possível. No exemplo trouxe um caso em que o ingresso meia-entrada é prejudicial para o setor e como isso causa aumento no preço dos ingressos comuns. Mas lembrem: o ingresso meia-entrada não vai ser proibido. O que está rolando é uma consulta pública da ANCINE e ela está revendo a obrigatoriedade da existência deste modelo de ingresso - o que pode resultar em estabelecimento adotando a medida ou não, ou seja, o cinema não vai mais ser obrigado a colocar este tipo de ingresso à venda, aparentemente deixará a critério do estabelecimento.

Vamos para o exemplo: imagine que você é dono de 1 cinema. Este cinema tem 5 salas, cada uma delas com 50 poltronas. Seu cinema tem um quadro de 5 funcionários que ganham R$500,00 cada um - R$2.500,00 se somados os salários.

Caso A: O ingresso custa R$10,00 e o faturamento de cada sala é de R$500,00 (em lotação máxima) - e somando todas as 5 salas o faturamento total é R$2.500,00, sendo possível pagar estes 5 funcionários.

Caso B: o ingresso custa R$10,00 mas agora há a obrigatoriedade do ingresso meia-entrada. 50% de uma sala é ocupada por ingressos inteiros e os outros 50% por ingressos meia-entrada. O faturamento de uma sala cai para R$375,00, e o total é de R$1.875,00, não sendo possível pagar todos os funcionários.

A diferença (subtração) destes valores é de R$625,00. Isto equivale a uma sala inteira + 25% de outra - com lotação máxima e ingressos à R$10,00. Como o faturamento caiu, talvez aconteça um corte no quadro de funcionários, talvez as salas já não estejam mais tão limpas e pode ser que algum projetor apresente mau funcionamento - tudo isso por causa da receita que será menor. A proposta para que o arrecadamento continue com R$500,00 e cobrando ingressos meia-entrada para 50% de cada uma das salas, será de aumento em 40% (arredondado) no preço do ingresso inteiro, indo de R$10,00 para R$13,50 (sendo a meia entrada R$6,75). Dessa maneira a receita se mantém próxima dos R$500,00 e será possível manter o quadro completo de funcionários, por exemplo.

Bom, meus amigos, é isso o que propus. Claro que um estudo de caso requer muito mais detalhes, informações e um cálculo bem mais complexo do que foi feito acima. No entanto o espírito da coisa está aí e menos que isso já é impossível fazer qualquer tipo de projeção - minha proposta foi de uma projeção simples, porém eficaz no quesito didatismo. Apenas quando o estudo for concluído é que teremos os indicadores necessários para nos posicionarmos sobre o assunto. Encerro por aqui.

Abraços,
Kike