Shutter Island (Ilha do Medo): Um ensaio psicológico em forma de thriller

 Olá, amigos do Estante! Esta matéria especial é uma crítica do filme Ilha do Medo, ou Shutter Island. Ele é baseado no livro homônimo escrito por Dennis Lehane, publicado em 2003 e conta uma história de horror/thriller psicológico.


Lançamento - Março de 2010
Gênero - Suspense/Thriller
Direção - Martin Scorsese
Sinopse - Na década de 50, a fuga de uma assassina leva o detetive Teddy Daniels e seu parceiro a investigarem o seu desaparecimento de um quarto trancado em um hospital psiquiátrico. Lá, uma rebelião se inicia e o agente terá que enfrentar seus próprios medos.

Elenco
Leonardo DiCaprio (Teddy Daniels)
Mark Ruffalo (Chuck Aule)
Ben Kingsley (Dr. John Cawley)
Max von Sydow (Dr. Jeremiah Naehring)
Jack Earle Haley (George Noyce)
John Carroll Lynch (delegado Warden McPherson)
Elias Koteas (Andrew Laeddis)

Impressões
À primeira vista o filme já nos entrega qual sua proposta narrativa: trata-se de um filme neo noir. Isto implica que aqui temos a investigação de um caso a partir do ponto de vista do protagonista, na sua função de detetive. Tendo isso em mente e sendo um amante de filmes noir/neo noir, logo acostumei meus olhos e ouvidos à exercerem função com o dobro da perspicácia. Scorsese entrega o enredo de maneira inconsistente, ora sutil, ora o expõe à luz de maneira indecente, isso tira o expectador de mentalmente limitado. É quase uma ofensa assistir a filmes que nos explicam as coisas ao invés de mostrá-las. E fica mais grave quando a obra já tem todo um trabalho de arte magnífico feito, o que mostra a capacidade inerente ali, intrínseca aos regentes.

Traumas
Durante sua trajetória à tal ilha, que serve como um manicômio de alta segurança, Teddy já apresenta sinais físicos de que sua psicoatividade está pulsando. Já no início já nos é dado a primeira pista. Mas sobre quem é a investigação, na realidade? Teddy está indo investigar a fuga de uma paciente de alto risco chamada Rachel Solando. E como desafio o protagonista enfrenta a si próprio - nada melhor que o palco desta apresentação tenha como pano de fundo uma fortaleza em que funciona um hospital psiquiátrico e com pacientes altamente perigosos.

Guerra
Ao longo dos anos a humanidade travou incontáveis conflitos - há quem diga que um desses humanos travou uma guerra contra os deuses e mandou soldados fincarem suas espadas na água, a fim de feri-lo já que era o deus dos mares. No cinema nós vemos à exaustão que a guerra mexe com o psicológico do homem, que sente dificuldades em se reinserir na sociedade. O seio familiar nem sempre é o suficiente para ele reencaixar as ideias, e então ele pede para voltar para o combate. Este talvez seja um dos poucos filmes que abordam os traumas que a Segunda Guerra deixou nas pessoas, é mais comum vermos este tema ser abordado em filmes com ambientações mais contemporâneas ao Conflito no Vietnã.

Fotografia (Luz e sombra: yin yang)
Robert Richardson, diretor de fotografia, fez um trabalho magnífico neste filme. Aqui ele adotou uma temática de espelhos e reflexos, presente em diversos filmes do Scorsese. Em tal momento do filme, em que percebemos o ponto de virada, ele adota o estilo chinês de filosofia  tradicional: já ouviu falar em Yin Yang? Vamos lá:

Yin (lado escuro 阴 yīn): representa montanha (lado esquerdo) e lua (direito)
Yang (lado claro 阳 yáng): representa montanha (lado esquerdo) e sol (direito)

Essa representatividade indica o equilíbrio de forças opostas, sendo: Yin para o frio/princípio passivo e o Yang para o calor/princípio ativo. Essa dualidade está presente na natureza onde ambas forças não vivem uma sem a outra, o equilíbrio se dá apenas com a existência simultânea entre si.
A mente humana com suas partes conhecidas e as obscuras também

Todo esse blá blá blá é para mostrar o Yin Yang da mente humana, representada na fotografia de Richardson no filme. A técnica utilizada por ele traduz a psique do personagem em uma arte lindíssima de se admirar. Ponto positivo para o roteiro que neste caso acertou ao ilustrar o enredo enriquecendo assim o longa. Teddy vive um dilema em seu trabalho e vê sua ocupação se entrelaçar em uma dança sem fim com sua vida particular, e quando isso acontece sua mente se confunde e não distingue mais realidade de sonho. Isso o leva ao limite e nos indica um colapso, ou seria uma revelativa? Aí que entra Freud no páreo. Para mim este filme é um ensaio sobre id, ego e superego.

Parafraseando o blog Psicoativo vamos ao texto, a fim de ter zero alterações decidi colar na íntegra:

'O Id é regido pelo “princípio do prazer”. Profundamento ligado a libido, está relacionado a a ação de impulsos é considerado inato. Está localizado na zona inconsciente da mente, sem conhecer a “realidade” consciente e ética, agindo portanto apenas a partir de estímulos instintivos, o que lhe atribui a característica de amoral.

O ego é a parte consciente da mente, sendo responsável por funções como percepção, memória, sentimentos e pensamentos. É regido pelo “princípio da realidade”, sendo o principal influente na interação entre sujeito e ambiente externo. É um componente moral, que leva em consideração as normas éticas existentes e atua como mediador entre id e superego.''

O superego é o componente inibidor da mente, atuando de forma contrária ao id. Considerado hipermoral, segue o “princípio do dever” e faz o julgamento das intenções do sujeito sempre agindo de acordo com heranças culturais relacionadas a valores e regras de conduta. O superego é, então, componente moral e social da personalidade.

Aplicando este princípio de Freud no protagonista temos a id de Teddy que é regida pela sua sanidade intacta (até certo ponto); em seguida temos o ego que é a realidade em que a esposa dele faleceu mas ele precisa continuar trabalhando; por último temos o superego que é onde está o plot twist genialmente inserido no filme.

Trilha sonora 
Gustav Mahler é o destaque no filme. Ele foi um compositor austríaco nascido em 1860 e pode ser considerado um elo entre os séculos XIX e XX. Durante o período da Alemanha nazista, época em que ele já havia falecido, suas composições foram proibidas mas redescobertas logo após o fim da guerra.


Pontuação

Rotten Tomatoes: 68% de aprovação
Metacritic: 63 de 100, baseado em 37 avaliações

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REFERÊNCIAS