Saga do Cavaleiro Verde - Parte 1: O Conto

Muito bem, amigos do Estante! Cá estamos para mais uma postagem. Tema? O Cavaleiro Verde - não o filme (ainda) mas, sim, o conto da Idade Média. A próxima publicação será a crítica do filme dirigido por David Lowery. Bora lá?


CONTEXTO HISTÓRICO

Todos conhecem o Rei Arthur, a Távola Redonda, a espada Excalibur e alguns cavaleiros como Lancelot, Percival etc. Tudo isso compõe a mitologia arturiana, ciclo de histórias e personagens concebidos para engrandecer, exagerar e até mesmo ilustrar o que foi a Inglaterra Antiga. Sim, muitas histórias como a de que o Rei Arthur, sozinho, derrotou 900 cavaleiros em uma única batalha, são contos lendários fantásticos cuja intenção original foi reerguer o moral do povo inglês, que vivia em uma situação precária, imunda e de muitas privações.

Se existiu um Arthur na Idade Média, ele provavelmente foi mais parecido com o personagem vivido por Clive Owen, no filme dirigido por Antoine Fuqua. Aquele Arthur nunca foi rei, mas sim um líder militar cujo caráter era digno de um monarca, e que esta coroação foi um símbolo póstumo, para enfeitar alguns personagens que poderiam ser um exemplo a ser seguido. Mas conforme os anos avançam, essa necessidade de contar uma história positiva, recheada de heróis e períodos vitoriosos aumenta também, fazendo com que muitos contos fantásticos sejam escritos. "O Cavaleiro Verde" é um destes casos, onde assumidamente o autor - desconhecido - narra uma história cristã em vestes mitológicas e mágicas. Talvez sequer fosse o caso de ambientar a moral do conto em um personagem da mitologia arturiana, mas já que assim foi escolhido, a bola da vez foi Sir Gawain (ou D. Galvão).

O visual do "verdadeiro" Arthur é mais parecido com o de um centurião romano


RESUMO DO CONTO

Festejando o final do ano, ou o nascimento de Cristo, os famosos Cavaleiros da Távola Redonda se reuniram para beber, comer e celebrar. Um cavaleiro adentra o salão, todos os seus pertences e inclusive sua pele, cabelo e barba, são verdes. A princípio ele foi alvo de chacotas, mas as devolveu, irritando o Rei Arthur - que coloca ordem no recinto e passa a palavra ao cavaleiro. O cavaleiro, então, lança um desafio: que algum corajoso guerreiro lhe desfira um golpe, com a promessa deste golpe ser devolvido ao passar de um ano. Todos acharam aquilo um absurdo, mas Sir Gawain se levantou e topou o desafio. Mas ele desferiu um golpe mortal no Cavaleiro Verde, decepando sua cabeça... Porém, o misterioso cavaleiro se levanta, pega a cabeça decepada com as mãos, e marca o encontro do retorno na Capela Verde.

Ao passar de 1 ano, Gawain parte para a aventura. Ele chega ao Castelo Bertilak, do lorde e lady Bertilak, e ali se hospeda. Gawain quase não se acomoda, com medo de perder a data, mas lorde Bertilak o tranquiliza: a capela verde é ali, na sua região. Então ele propõe um jogo ao cavaleiro: tudo o que Gawain conseguir no castelo, terá de trocar com o que o lorde conseguir na caça.

Ao chegar na capela verde, Gawain se abaixa para o cavaleiro golpear. Na primeira tentativa, Gawain se assusta e se afasta. E é na segunda tentativa que, a pedido do cavaleiro, Gawain retira qualquer objeto mágico ou que contivesse qualquer encanto para protegê-lo. Gawain se desfaz do cinto verde mágico, cedido por lady Bertilak, e sofre apenas um arranhão em seu pescoço. O Cavaleiro Verde revela quem é e qual seu propósito nesta trama toda, e então Gawain retorna para Camelot.

Uma das primeiras artes - se não for a primeira - sobre a lenda do cavaleiro verde

TEMA RELIGIOSO

Sem sombra de dúvidas o conto não foi reproduzido na íntegra, até para deleite de quem deseja realizar tal bela leitura. Porém é ainda válido destacar que alguns temas presentes no conto são fundamentais para a estrutura da obra. A mais importante temática espalhada ao longo do livro é a religião.

O conto se inicia em uma data de tradição cristã: o natal. Época de reuniões, celebração e bebedeira. Gawain aceita o desafio, como uma busca pela conquista da honra e o acúmulo de experiência, e um de seus itens levados para o duelo é um escudo. Neste escudo está desenhado um pentagrama que, antes de se tornar um símbolo de bruxaria, originalmente seu significado foi de cunho religioso, simbolizando as 5 chagas de Cristo e as 5 alegrias de Virgem Maria.

Mais adiante, Gawain, com peso na consciência - mesmo tendo rejeitado as investidas de lady Bertilak - se confessa a um padre antes do duelo na capela verde. Embora tenha negado a existência do cinto mágico cedido pela mesma lady Bertilak.

(Continua na próxima publicação...)