Especial Batman – Parte 2: Selo CCA e a suavização do homem-morcego

Olá, amigos do Estante! Esta é a segunda publicação de uma série que farei homenageando o personagem da DC Comics: o Batman. O “Especial Batman” foi dividido em 6 partes e penso em concluir a série lá para meados de maio (2020), mas segue abaixo a relação das publicações que farei. Conforme eu for postando, essa – e as outras partes – ganharão um novo link no sumário, para todo mundo ter a referência e saber quando as outras matérias da série saírem.


Parte 1: Criação, criadores e primeiros anos - CLIQUE AQUI

Parte 2: CMAA (Comics Magazine Association of America), primeira releitura e a suavização do personagem (atual publicação)

Parte 3: Segunda releitura com Neal Adams, novos personagens e o retorno da fase sombria - CLIQUE AQUI

Parte 4: Anos 80 – A era das graphic novels - CLIQUE AQUI

Parte 5: Filmes, séries e videogames - CLIQUE AQUI

Parte 6: The Batman de Matt Reeves com Pattinson - CLIQUE AQUI


SELO CCA

No final dos anos 40, os quadrinhos de horror eram muito populares

Hoje em dia os games e alguns filmes são alvos da mídia, que faz alvoroço a todo e qualquer possível estímulo à violência física, agressão etc., através de cenas de gore ou personagens lunáticos. O filme Coringa, de Todd Philips, foi massacrado por alguns jornais que demonstraram pavor da obra, temendo que ela fosse gatilho para muitas mortes e tragédias. Até que ultimamente os games tem se safado um pouco. Mas enfim. Lá pelos anos 50 os quadrinhos ditavam a moda entra a juventude, eram uma maneira de baixo custo que entretinha inicialmente os mais jovens. Com o tempo, esses jovens foram crescendo e o interesse pela leitura ainda não havia mudado, o que fazia com que estes jovens agora se interessavam por temas como romance, crime, traições etc. O plano de fundo era basicamente este.

Criado em maio de 1939, o Batman foi o segundo herói da DC a fazer sucesso desde os primórdios. Entretanto, mesmo em sua fase inicial ainda nas revistas Detective Comics, ele era considerado um personagem bastante sombrio para sua época pois suas histórias envolviam máfia, crime e assassinatos – bem como os film noir contemporâneos. Não apenas as crianças liam quadrinhos do morcegão, como também jovens adultos que estavam em guerra, seja na Europa ou em campanhas no continente asiático da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Fora os quadrinhos da DC e Marvel, havia diversas publicações para maiores de idade como a Horror Comics.

O homem que por pouco não dizimou quadrinhos e heróis

Fredric Wertham, também conhecido como Dr. W., foi um psiquiatra alemão que se popularizou nos Estados Unidos. Ele foi conhecido não só por ter proximidade com Sigmund Freud ou por ser psiquiatra-chefe no Hospital Bellevue, mas também é conhecido na cultura pop por quase ter destruído os quadrinhos. Isso se deve ao fato de que o doutor estava obcecado com os heróis dos quadrinhos. Acusava-os de serem responsáveis pela delinquência juvenil e por sugerir até mesmo a homossexualidade – fora que foi o próprio Wertham quem insinuou que Batman e Robin tinham um affair homossexual. O doutor chegou a dar palestras no final dos anos 40 e aos poucos o resultado era perceptível: houve queima de quadrinhos nas ruas de Nova York; houve delegados de polícia proibindo a venda de quadrinhos em seus bairros. Mas o golpe fatal viria com o livro Seduction of the Innocent (Sedução de Inocentes, em tradução livre), publicado em 1954.

O livro teve forte impacto na sociedade, tanto é que ele entrou em pauta no senado norte-americano. As editoras temiam pelo futuro, incerto, então criaram uma junta: a CMAA (Comics Magazine Association of America), e a partir dela passaram a exercer um código de conduta, em resposta à pressão popular e política sofrida na época. Este código continha um selo estampado em cada capa de gibi, contendo a sigla CCA (Comics Code Authority) e indicava que aquele quadrinho estava livre de uma série de todo e qualquer tópico previamente estabelecido. CLIQUE AQUI para acessar os critérios na íntegra. Em resumo, ele dizia:

  • Policiais, juízes, governadores e outras respeitosas instituições, não devem ser representadas de maneira desrespeitosa;
  • Em toda instância, o bem prevalecerá sobre o mal e todo criminoso deve ser punido;
  • Nenhum quadrinho deve usar as palavras Horror / Terror em seus respectivos títulos;
  • Cenas com vampiros, lobisomens, zumbis e afins são proibidas;
  • Nudez não é permitida em nenhum aspecto;

Assim, se iniciou a Era de Prata dos quadrinhos. Vamos ver?

ERA DE PRATA: Nostálgica e ridícula

O Batman parou de enfrentar criminosos. Suas histórias não eram mais noir como os filmes. O Coringa não assassinava suas vítimas com gás do riso ou zarabatanas envenenadas; a Mulher-Gato foi proibida de aparecer por quase 12 anos; a jornada do homem-morcego não era mais em Gotham City combatendo o crime, pois agora ele viajava no tempo e lutava contra alienígenas e robôs espaciais. Teve até mesmo um uniforme “Batzebra”, e sua família aumentou: veio a Batgirl, a Batwoman e até um Batcachorro... Tudo isso para rechaçar a insinuação de Bruce Wayne ser homossexual. Ele era MACHO, RAPÁ.

Antes de Adam West, Lewis Wilson deu vida ao Homem-Morcego em 1943

Mas essa virilidade toda não durou muito tempo, pois na década de 60 o morcegão ia ganhar mais uma adaptação para as TVs e para o cinema. Adam West, Burt Ward, Cesar Romero e muito mais integravam o elenco do seriado Batman & Robin. Sim, a série clássica com as dancinhas de West é fruto do CCA. Foram 120 episódios divididos em 3 temporadas, mesmo contendo humor pastelão e as famosas onomatopeias em tela, a série foi um baita sucesso – muito em função de ela não se levar muito a sério mesmo, já que não tinha o que fazer. Tudo isso estava acabando e, apesar do CCA ter vigorado até 2010-2011, já na década de 70 ele perdeu forças e muitos personagens aproveitaram para fazer a primeira releitura, tanto dos temas abordados, quanto em suas respectivas origens. Mas este capítulo fica para a próxima publicação.

Abraços,

Kike

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REFERÊNCIAS

Documentário 'Diagram for Delinquents'

A Supercensura Contra a Turma dos Quadrinhos - https://revistacult.uol.com.br/home/a-supercensura-contra-a-turma-dos-quadrinhos/

Tilley, Carol L. (2012) Seducing the Innocent: Fredric Wertham and the Falsifications That Helped Condemn Comics. Information & Culture: A Journal of History 47(4), 383-413. Available electronically via Project Muse (DOI: 10.1353/lac.2012.0024).

Batman, a History of Heroics: 1940s-1950s - https://www.dccomics.com/blog/2019/03/20/batman-a-history-of-heroics-1940s-1950s

Lewis Wilson's Batman (1943) - https://www.youtube.com/watch?v=nq3ID6GJEjE

De Lewis Wilson a Ben Affleck: as transformações do Batman até 'Liga da Justiça' - https://www.preparadopravaler.com.br/noticia/de-lewis-wilson-a-ben-affleck-as-transformacoes-do-batman-ate-liga-da-justica_a25557/1

Lewis Wilson: o Primeiro Batman - https://www.memoriascinematograficas.com.br/2020/01/lewis-wilson-o-primeiro-batman.html

Péssimo ator, Adam West foi o melhor Batman - https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/06/1891967-pessimo-ator-adam-west-foi-o-melhor-batman.shtml

Fredric Wertham: o Homem que Tentou Matar o Batman - https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/fredric-wertham-o-homem-que-tentou-matar-batman.phtml

O Doutor que Odiava Heróis - https://super.abril.com.br/cultura/o-doutor-que-odiava-herois/

Comics Code Authorityhttps://en.wikipedia.org/wiki/Comics_Code_Authority